INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ
GEICY NASCIMENTO DE ARAÚJO
KARLA LARISSA BARBOSA
KETIANE DO AMARAL FLEXA
NAYARA DO SOCORRO SOUSA PINHEIRO
ODENILDA SANTOS DOS REIS
RENATA UCHÔA DE SÁ CAVALCANTE
CLASSICISMO
Quatro séculos depois do início do Trovadorismo, surge em Portugal o Classicismo, também chamado de Quinhentismo por ter se manifestado no século XVI, em l527 (pela data), quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália trazendo as características desse novo estilo.
O tema predominante nas obras artísticas e literárias do Renascimento é sempre o HOMEM e tudo que diz respeito a ele.
I- Contexto Histórico do Classicismo: o RENASCIMENTO
As GRANDES NAVEGAÇÕES fazem com que o HOMEM do início do século XVI se sinta orgulhoso e confiante em sua capacidade criativa e em sua força: desafiar os mares, percorrer os Oceanos, descobrir novos mundos, produzir saberes, desenvolver as Ciências e transformá-las em tecnologia, tudo isso resulta no surgimento de um HOMEM muito diferente daquele existente na Idade Média e esse homem volta a ser o centro da sua própria vida (ANTROPOCENTRISMO). O que esse homem faz de melhor é em prol de si mesmo e isso se reflete também na Arte e na Literatura que ele produz nessa época. Esse caráter humanista ou antropocêntrico estava esquecido nas "trevas" da Idade Média, mas já havia existido na Antiguidade (na civilização grega, por exemplo) e é porque, no início do século XVI, ocorre o ressurgimento ou renascimento do Antropocentrismo, que esse período da História é chamado de RENASCIMENTO. O Renascimento é o momento histórico em que o homem produz grande quantidade e qualidade de obras artísticas e literárias; elas perdem o primitivismo e a ingenuidade das obras medievais e ganham um aprimoramento técnico que supera até as obras da Antiguidade: as cores se multiplicam, surge a noção de perspectiva, as formas humanas são concebidas de maneira mais nítida, no caso da Arte. O "berço" do Renascimento é a Itália.
II- A Literatura produzida no Renascimento: o CLASSICISMO
A volta do mesmo espírito antropocêntrico da Antiguidade faz com que o homem renascentista busque inspiração nos modelos artísticos e literários - nas obras - das antigas civilizações, principalmente nas da Grécia Antiga. Assim, as características das obras da Antiguidade são trazidas de volta e são também características das obras renascentistas. A Idade Antiga é também chamada de Idade Clássica e as obras produzidas naquela época são igualmente chamadas de clássicas. Como a obra renascentista possui as mesmas características da obra da Antiguidade, também ela é chamada de clássica e esse período artístico e literário, de CLASSICISMO.
III- Características do Classicismo Renascentista:
1. ANTROPOCENTRISMO
2. PRESENÇA DE ELEMENTOS DA MITOLOGIA
3. PRESENÇA DE ELEMENTOS DO CRISTIANISMO
4. PRECIOSISMO VOCABULAR
5. OBEDIÊNCIA À VERSIFICAÇÃO
6. FIGURAS (= em especial a Personificação)
7. RACIONALISMO( = objetividade)
8.UNIVERSALISMO(= generalização
Sá de Miranda
Nome: Francisco Sá de Miranda
Nascimento: 28-8-1481, Coimbra
Morte: c. de 1558
Francisco Sá de Miranda nasceu em 28 de Agosto de 1481 na cidade de Coimbra. Filho de Gonçalo Mendes de Sá e de Inês de Melo frequentou talvez influenciado pelo pai, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que ministrava, de acordo com a formação humanista da época, o ensino das línguas latina e grega. Formou-se em Direito, na Universidade de Lisboa e frequentou os serões da corte, começando, então, a escrever cantigas, esparsas e vilancetes que, mais tarde, foram inseridos no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende.
Desejoso de conhecer
in loco as fontes renascentistas viajou em 1521 para Milão, Veneza e Roma, tendo aí vivido cerca de cinco anos. Habituado a um ambiente "fechado" e tradicionalista, ficou impressionado e mesmo revoltado com a dissolução dos costumes destas cidades, envolvidas pelos ares da modernidade. Aqui conviveu com grandes vultos das novas mentalidades da renascença, nomeadamente o cardeal Bembo Sannazzaro, grande nome da literatura da época, e Ariosto. Em 1526, de passagem por Espanha, conheceu Boscan e Gracilaso.
Regressando a Portugal, entre 1526 e 1527, continuou a manter contactos frequentes com a corte, agora instalada em Coimbra. No entanto, quatro anos mais tarde, retira-se da cidade e recolhe-se na Comenda de Duas Igrejas concedida pelo Estado, onde passará a viver com os bens resultantes da herança paterna. Casando em 1530 com D. Briolanja de Azevedo, ali vive cerca de 20 anos, durante os quais contacta com fidalgos e amigos escritores, que marcaram profundamente a sua criação literária.
Mais tarde, em 1552, com as terras adquiridas no concelho de Amares, constitui a Quinta da Tapada, onde recebe a notícia da morte de alguns entes queridos, nomeadamente de seu filho Gonçalo Mendes de Sá, tombado na luta contra os Mouros, em Ceuta, de sua mulher, em 1555, do príncipe D. João (pai de D. Sebastião), do infante D. Luís (filho de D. Manuel) e de D. João III.
Integrado na corrente humanista, Sá de Miranda é conhecido por introduzir novas formas literárias, nomeadamente a medida nova - decassílabo - e a comédia em prosa, e pelos valores morais que defendeu.
Morre em 1558, com cerca de 80 anos, depois de uma vida dedicada às Letras, das quais fez um permanente veículo de intervenção social e literária.
O Cancioneiro Geral encerra poesia palaciana de Sá de Miranda e é no verso tradicional que ele realiza o melhor da sua obra - as Cartas. Num esforço digno de elogio, este poeta, que filosofou com as musas e poetou com os filósofos, tentou as várias espécies e géneros que o Renascimento criara, ou restaurara do Classicismo.
Restaurou:
•
a Ode - poesia que tem os seus antepassados em Anacreonte, Píndaro, Alceu e Safo. É, em geral, poesia panegirista ao Amor, à Virtude, às grandes figuras. Píndaro foi o autor das odes que glorificavam os vencedores dos jogos olímpicos. Estas odes eram cantadas e tinham forma tripartida em estrofe, antístrofe e apodo. Anacreonte foi o poeta do amor, a poetisa Safo versa, principalmente, temas morais.
•
a Elegia - sucedânea, entre nós, do pranto, era uma composição de tom lamentoso, saudosista, triste, embora na Grécia tivesse mais amplitude de temas.
•
a Écloga - também tem precedentes na Península, na pastorela da poética trovadoresca, mas é em Teócrito, como já vimos, que tem as suas raízes.
•
a Carta - a célebre Epístola aos Pisões de Horácio, que é, para os Romanos, uma Arte Poética à maneira da de Aristóteles, está na origem desta espécie que vai ser muito versada no século XVI. Não é composição amorosa. Em Sá de Miranda é, essencialmente, de natureza moralista, em António Ferreira, de feição literária.
Soneto:
O Sol é grande
O Sol é grande; caem c'a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que soe ser fria.
Esta água que cai d'alto, acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidado graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves!
qual é tal coração qu'em vos confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
incertos muito mais que o vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas,vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
também mudando-m'eu fiz doutra cores
e tudo o mais renova, isto é sem cura!
ANÁLISE:
É um soneto clássico, com versos decassílabos e rimas externas emparelhadas e interpoladas nos dois quartetos e alternadas nos dois tercetos. A linguagem é bem clara, onde predominam figuras de construção, tais como as anáforas (por exemplo, “ver”) e enumerações que servem para intensificar a ideia de mudança. Sá de Miranda enumera as figuras da natureza presentes no soneto: aves, água, sombras, flores e verdura. Apresenta um eu-lírico mais emotivo, o que pode ser constatado pela inscrição de um “Eu” no texto no início da segunda estrofe, e do ponto de exclamação no final do soneto, onde o sujeito se inscreve como o derradeiro objeto de mudança.
Ó meus castelos de vento
Ó meus castelos de vento
que em tal cuita me pusestes,
como me vos desfizestes!
Armei castelos erguidos,
esteve a fortuna queda,
e disse:– Gostos perdidos,
como is a dar tão grã queda!
Mas, oh! fraco entendimento!
em que parte vos pusestes
que então me não socorrestes?
Caístes-me tão asinha
caíram as esperanças;
isto não foram mudanças,
mas foram a morte minha.
Castelos sem fundamento,
quanto que me prometestes.
quanto que me falecestes.
Análise:
A redondilha de Sá de Miranda do ponto de vista estético é da medida velha, pois a mesma obedece à poesia de tradição popular, onde possuem 5 ou 7 sílabas (menor ou maior). A sua linguagem é elíptica, sóbria, densa, forte, trabalhada, sendo muitas vezes difícil de entender e às vezes demasiado dura. Para Sá de Miranda, a poesia não é uma ocupação para ócios de intelectual ou de salões, mas uma missão sagrada. O poeta é como um profeta, onde deve denunciar os vícios da sociedade, sobretudo da Corte, o abandono dos campos e a preocupação exagerada do luxo, que tudo corrompe, deve propor a vida sadia em contato com a natureza, a simplicidade e a felicidade dos lavradores.
QUESTIONÁRIO:
• Qual sua opinião sobre o soneto e a redondilha de Sá de Miranda, exposta em nosso trabalho?