SOBRE CAMÕES E SEU ESTILO: Esse poeta português foi e é um dos maiores vultos da literatura da Renascença, sua obra se coloca entre as mais importantes da literatura ocidental. Camões é considerado o poeta português mais completo de sua época e/ou de toda a literatura de língua portuguesa. É assim considerado pela amplitude dos temas de que abordou e pelo perfeito uso da língua que o beneficiou ampliando seus horizontes de expressão.
Em suas obras a língua portuguesa passou a expressar sentimentos, sensações, fatos e ideias, da forma que ninguém naquele momento alcançara. Sua posição de destaque entre os poetas portugueses de seu tempo é devida também ao fato de em sua obra estarem presentes tanto o humanismo como a expansão ultramarina, isto é, os dois elementos que caracterizaram o Renascimento português. Tornou-se célebre não somente por ter escrito Os Lusíadas, mas também por sua obra lírica, constituída por vários tipos de poemas, dentre os mais famosos certamente são os sonetos. A obra lírica de Camões é constituída por poemas feitos em medida velha e em medida nova.
A medida velha obedece a poesia de tradição popular, as redondilhas menor (de 5 sílabas) e maior (de 7 sílabas). São composições com um tema. Os poemas em medida nova são formas poéticas ligadas a tradição clássica. São eles: Sonetos; Éclogas; Elegias; Canções; Oitavas; Sextinas. Nos poemas de medida velha, Camões está mais próximo da poesia popular medieval, já nos de medidaa nova aproxima-se de grandes clássicos.
Na poesia lírica de Camões o amor é descrito como um sentimento que entusiasma o homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza e a Verdade. Também aparece por um lado que o Amor é manifestação do espírito e por outro é manifestação física. Para ele, o Amor deve ser experimentado, deve ser sentido e não ser apenas mental. Na sua poesia lírica, o poeta passa a ideia de que o amor só é válido quando é complexo e contraditório.
BIOGRAFIA: As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras, apoiando-se em poucos documentos e breves referências dos seus contemporâneos. A própria data do seu nascimento, assim como o local, é incerta, tendo sido deduzida a partir de uma Carta de Perdão real de 1553. A sua família teria ascendência galega, embora se tenha fixado em Portugal séculos antes. Pensa-se que estudou em Coimbra, mas não se conserva qualquer registro seu nos arquivos universitários.
Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em 1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte. Data do ano seguinte a referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu para a Índia. Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário, pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria exercido o cargo de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558. Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu tempo (como o vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta).
Em 1569 iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador Diogo do Couto, amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique, onde vivia na penúria. Juntamente com outros antigos companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde desembarcou em 1570. Dois anos depois, D. Sebastião concedeu-lhe uma tença, recompensando os seus serviços no Oriente e o poema épico que, entretanto publicara, Os Lusíadas. Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se diz na miséria. No entanto, é difícil distinguir aquilo que é realidade, daquilo que é mito e lenda romântica, criados em torno da sua vida.
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
ANÁLISE: As composições de Camões na Medida Velha eram bastante brincalhonas, pois faziam parte de sua mocidade. Essas composições mostravam a habilidade formal do poeta, que era bem preso às imagens, ambigüidades e trocadilhos, porém voltado para a demonstração da habilidade de manipulação das palavras e conceitos. Nesse texto podemos notar os elogios para um ser observado pelo eu-lírico, onde se mostra um cenário bucólico, é relato de um dia-a-dia, são composições de aparentes observações do autor.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.
Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
ANÁLISE: No textos em Medida Nova, Camões é voltado para o antropocentrismo, onde a figura humana é o centro do universo, o sentimentalismo, o afeto, as ideias etc. entram em cena com Camões. Fala-se neste texto de Amor, muitas vezes usado com a letra "A" maiúscula, não é esse o caso, a contradição é evidente, onde amor é ruin e bom ao mesmo tempo, pois "todos esses males são um bem", Camões fala do amor verdadeira que faz sofrer e faz feliz, e se pudesse trocar esse bem por outro, não o trocaria, já que essa é a essêcia da vida.